sábado, 30 de julho de 2016

Francisca Viana de Messias (Dona Chiquinha Tabita)


“A PATRONA DA CADEIRA 07”[1]
Por Maria Dalva Vieira

APRESENTAÇÃO

 



O presente trabalho visa atender aos requisitos da Academia de Letras e Artes de Martins- ALAM, condição essencial para legitimar a posição de Primeira Ocupante da Cadeira 07, que tem como Patrona Francisca Viana de Messias.
Neste sentido, na qualidade de pesquisadora e neta da homenageada, entendo que o conteúdo deste Documento não teria credibilidade se partisse apenas da minha impressão emocional e citação como testemunha dos fatos, se não tivesse outros olhares próximos e afastados do convívio com Francisca Viana de Messias (Dona Chiquinha Tabita).
Foi então preciso ir a outras fontes de informações sobre Francisca Viana de Messias, entrevistando um Franciscano que foi seu aluno e uma professora que muito conviveu com a mesma. 
Adentrando numa criteriosa varredura das informações contidas nos documentos e depoimentos dos entrevistados, bem como, no resgate de minhas memórias de neta partimos para a sistematização do conteúdo desta Plaqueta, cujo maior desafio é nos aproximarmos o máximo possível do caráter histórico documental sobre o perfil pessoal e profissional da vida da Homenageada.
Na certeza de que o compromisso assumido tem credibilidade o material coletado foi todo contemplado no conteúdo deste, sem críticas ou exclusões; vez que todas as informações advieram de fontes validadas, nivelando-se com o nível de qualidade da homenageada, cujos valores éticos foram praticados, com base em relações humanas e duradouras, engajadas no sentimento profundo vindo do coração e com autodisciplina a serviço da vida.

SOBRE MARIA DALVA VIEIRA


       Nasci na zona rural da Serra de Martins, mais precisamente no Sítio Canto distante 03 quilômetros da zona urbana, no dia 16 de outubro de 1952, onde permaneci até os 14 anos de idade, quando me desloquei para Mossoró com a finalidade de avançar em meus estudos.

No Sítio Canto dividi a minha vida de estudante com a lida da agricultura no plantio de algodão, feijão e milho.
Sem dúvida que a vida familiar sem condições financeiras não afetou a grandiosidade da formação ética e religiosa regadas com muito amor, paz, harmonia e fé, repassada, através do exemplo dos meus pais Jorge Julião da Silva e Maria Alexandrina da Conceição, que no meu entender prestaram o maior serviço que se pode prestar a humanidade: constituíram uma família.
Permaneci em Mossoró até 1968, tendo estudado na Escola Estadual Jerônimo Rosado, indo para o Rio de Janeiro aos 17 anos de idade para dar continuidade aos meus estudos.
No Rio de Janeiro estudei, me graduei em contabilidade e administração de empresas, trabalhei como contadora durante 13 anos. Constitui  família, tendo como esposo Edilson Gonzaga de Souza, com o qual tive 03 filhos: Edilson Gonzaga de Souza Júnior, Carla Vieira de Souza e Silvia Vieira de Souza.
Por motivo da doença do meu esposo retornei ao Rio Grande do Norte e durante 02 anos, dediquei-me a cuidar do meu esposo doente, tendo ficado viúva, em 1986, com três filhos menores (7, 4 e 2 anos).
Continuei os meus estudos, em nível de pós-graduação (Desenvolvimento Regional e Meio ambiente e psicopedagogia) e de Licenciatura em Pedagogia e bacharelado em Serviço Social.
Ingressei no setor público como professora do município de Areia Branca, hoje aposentada. Desenvolvi atividades nas políticas públicas de Educação, Assistência Social, Meio Ambiente, Trabalho e Habitação desde1997; sendo que desde o ano 2000 sou gestora municipal da assistência social de Viçosa. Trabalhei em Campo Grande, Frutuoso Gomes e Messias Targino,  como assessora técnica da educação e da assistência social, tendo colaborando em alguns programas e projetos, entre eles: , Programa Bolsa Escola, Programa Bolsa Família, Cadastro Único, Programa Brasil Alfabetizado, Conselho da Criança e Adolescente, Conselho tutelar, Conselho de Educação, FUNDEF, FUNDFEB, Prefeito amigo da Criança e Selo Unicef Município Aprovado.
Sou imortal da ALAM – Academia de Letras e Artes de Martins, ocupante da cadeira número 7, definindo meu perfil como: Autora do livro “O Gerenciamento das Políticas Sociais: Memória, Trabalho e Resultado”. Entre os Relatórios de Pesquisas realizados merece destaque para a “A Sustentabilidade do Ambiente do Trabalho do Professor”. Atuei como Presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Areia Branca por 08 anos e militei em diversos conselhos de controle social e de políticas públicas. Meu maior prêmio: meus três filhos, e meus quatro netos e um a caminho.

DONA CHIQUINHA TABITA: DO FEMINISMO À EVANGELIZAÇÃO

A Educadora Matinense FRANCISCA VIANA DE MESSIAS, Dona Chiquinha Tabita, como carinhosamente era chamada, sempre levou a oração para a sala de aula. Foi a primeira Professora, a primeira Catequista e a verdadeira Missionária do Sítio Canto.
Nasceu no Sitio Jacú, no município de Martins, estado do Rio Grande do Norte. Filha de José Viana de Messias e Antonia Maria da Conceição (Coconha).
Seu pai, que era fogueteiro, faleceu numa explosão de fogos, deixando três filhas e a viúva Coconha com 26 anos. Isto fez com que Francisca Viana de Messias, logo cedo tivesse que dividir com a mãe a tarefa de vigia do grupo escolar Almino Afonso e o trabalho da roça para ajudar no sustento e na educação das suas duas irmãs caçulas. Essas responsabilidades não lhe privaram do compromisso com os estudos e o amor pela cultura, preparando-se para ser professora e evangelizadora.
Casou-se aos 24 anos de idade (em 1913) com José Antonio Vieira (Zé Chapéu), com o qual teve 08 filhos: Vicente, Pedro, Francisco, Paulo, José, Luis, Maria e Ana, tendo educado a todos com base nos princípios do catolicismo, da ética, da solidariedade e do humanismo.
Pessoa religiosa, comprometida com a solução das questões da sociedade proletária, da igreja e das famílias, Dona Chiquinha Tabita era Zeladora do Apostolado do Coração de Jesus e Membro da Congregação Santa Terezinha.
Eis, então, o fundamento por ela adotado na constituição de sua família, em que a partilha, o bem, o amor e a fraternidade eram vivenciados cotidianamente no convívio com os filhos e o seu esposo.
Com a visão da ação e da oração como fundamentos do projeto ideal da criação, Dona Chiquinha Tabita utilizou a cultura, a religião e a espiritualidade como à coluna de ferro para a sustentação da família e modelo de formação dos seus filhos e dos seus alunos.
Seus alunos sim; porque mesmo sem nenhuma remuneração, nem tampouco ajuda, Francisca Viana de Messias fez da sua residência uma verdadeira Igreja Doméstica e Primeira Escola Pública do povoado Sítio Canto, onde morou até a sua morte.

O PORQUÊ DA IGREJA DOMÉSTICA:

A sala de sua casa era equipada com bancos, uma mesa, um oratório com muitas imagens e a Bíblia, onde todos os domingos eram ministradas aulas de religião, preparando as crianças para a Primeira Eucaristia. A palavra de ordem era a religiosidade, a ética, o respeito e a obediência como sustentáculo da vida feliz.
Uma vez por cada ano, a calçada da sua casa / Igreja Doméstica se transformava em Altar e seu terreiro em Plenário Comunitário, quando Pe Carlos Celebrava a Missa da Primeira Eucaristia daqueles seus alunos do catecismo que estavam preparados espiritualmente para receber o Corpo de Cristo e os laços matrimoniais dos noivos da comunidade do Sitio Canto.
Numa pretensa vontade de materialidade de culto aos mortos e resgate da história dos martinenses, Dona Chiquinha Tabita, todas as segundas-feiras ia, com os alunos, ao Cemitério, onde Rezava o Ofício das Almas e fazia reflexões sobre a Memória Histórica dos Antepassados que ali estavam no seu repouso eterno.
Durante o ano, todas as noites do mês de maio eram rezadas as novenas marianas, com a participação de todos os moradores. A organização do ambiente da sala para as novenas ficava sob a responsabilidade dos alunos da escolinha.

O PORQUÊ DO LAR ESCOLA:

Na mesma sala onde, aos domingos eram ministradas as aulas do catecismo, de segunda a sexta-feira, um grupo de crianças do Sitio Canto recebiam os ensinamentos da Educação Formal Integral e Integrada. Dona Chiquinha Tabita priorizava nas suas aulas dos conteúdos de Português e Matemática, assuntos que motivassem os alunos, como: Respeito ao Meio Ambiente, A Saúde do Corpo, O Patriotismo e a Justiça Social, a Economia do Lar, A Família e a Vida.
Eram dadas aulas práticas de Higiene e Atividades Físicas. Com o auxílio de um bastão e tendo como ajudante o seu filho José Antonio Vieira (Zeca), eram praticados os exercícios físicos como medida de saúde.
A Responsabilidade Social de Dona Chiquinha Tabita ia ao extremo, fornecendo almoço diariamente para aquelas crianças que demonstravam sinais de desnutrição e de fraqueza.
Quando uma criança faltava às aulas ela ia visitar para saber das mães a causa. Quando o motivo era a falta de roupa ou calçado ela mesma providenciava a compra, confecção do vestuário e a distribuição. Porém, não sem antes dar um belo sermão de compromisso, responsabilidade e de luta pela justiça social.
Assim, a criança só deixava de frequentar as suas aulas quando sabia as quatro operações e concluía com domínio de conhecimento todo o conteúdo da Cartilha do ABC e dos Livros Laurita e Ensino Rápido.
Durante suas aulas procurava sempre relacionar o letramento, a religiosidade, a ética e justiça social, dando um tom todo especial às ideias feministas muito avançadas para aquela época.
Amante da cultura e da arte, Dona Chiquinha Tabita, fazia da sua vida de religiosidade e de dedicação ao lar a marca da concepção revolucionária sobre a educação e o papel da mulher na sociedade e na família, fato que imprimiu sua passagem na formação da população da época.
Católica fervorosa dedicou toda a sua vida aos mais pobres e excluídos da sociedade, além de esposa dedicada e mãe exemplar.
Esgotada fisicamente, Dona Chiquinha Tabita, foi acometida de forte bronquite asmática, reumatismo nos joelhos e um grave abscesso no seio esquerdo, em 1959, tendo ficado paralítica em 1960.
Faleceu, no Sítio Canto, em 15 de fevereiro de 1967, após ter passado 07 anos de intenso sofrimento físico, deixando viúvo seu esposo José Antonio Vieira, que veio a falecer 15 anos depois da sua morte.
Durante os 07 anos de paralisia dirigiu com braço forte as ações religiosas de todos seus familiares residentes no Sítio Canto (filhos, genros e netos), com a prática da reza do Terço, todas as noites e do Ofício de Nossa Senhora, todas as madrugadas.
Eram seus companheiros inseparáveis: O rosário, a palavra de Deus e a ação.
Sua indignação: A Injustiça social, o Acúmulo de riquezas materiais e a Falta de ética.
Seus bens materiais: Duas vestes e um calçado, pois só tenho um corpo.
Seus bens maiores: O Amor, a Partilha, a Fé e a Dignidade.
Sua Máxima nas noites de sofrimento e dor:
Quem fui; quem sou; quem serei?
Quem fui? – Não me lembro.
Quem sou? _ Nunca pensei!
Quem serei? _ Não quero saber
Pela sua história de vida, pelos vários desafios enfrentados na sua prática educativa, familiar e social, como defensora da Família e dos humildes, bem como evangelizadora das crianças, viveu um projeto pedagógico que a legitima ser patrona da cadeira 07 da ALAM.
Francisca Viana de Messias tinha no seu companheiro José Antônio Vieira a pactuação de suas ações. Era denominada de Mãe de todos.





[1] 03 de Janeiro de 2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário