“A PATRONA DA CADEIRA 07”[1]
Por Maria Dalva Vieira
APRESENTAÇÃO
O presente trabalho visa
atender aos requisitos da Academia de Letras e Artes de Martins- ALAM, condição
essencial para legitimar a posição de Primeira Ocupante da Cadeira 07, que tem
como Patrona Francisca Viana de Messias.
Neste sentido, na
qualidade de pesquisadora e neta da homenageada, entendo que o conteúdo deste
Documento não teria credibilidade se partisse apenas da minha impressão
emocional e citação como testemunha dos fatos, se não tivesse outros olhares
próximos e afastados do convívio com Francisca Viana de Messias (Dona Chiquinha
Tabita).
Foi então preciso ir a
outras fontes de informações sobre Francisca Viana de Messias, entrevistando um
Franciscano que foi seu aluno e uma professora que muito conviveu com a
mesma.
Adentrando numa
criteriosa varredura das informações contidas nos documentos e depoimentos dos
entrevistados, bem como, no resgate de minhas memórias de neta partimos para a
sistematização do conteúdo desta Plaqueta, cujo maior desafio é nos
aproximarmos o máximo possível do caráter histórico documental sobre o perfil
pessoal e profissional da vida da Homenageada.
Na certeza de que o
compromisso assumido tem credibilidade o material coletado foi todo contemplado
no conteúdo deste, sem críticas ou exclusões; vez que todas as informações
advieram de fontes validadas, nivelando-se com o nível de qualidade da
homenageada, cujos valores éticos foram praticados, com base em relações
humanas e duradouras, engajadas no sentimento profundo vindo do coração e com
autodisciplina a serviço da vida.
SOBRE
MARIA DALVA VIEIRA
Nasci
na zona rural da Serra de Martins, mais precisamente no Sítio Canto distante 03
quilômetros da zona urbana, no dia 16 de outubro de 1952, onde permaneci até os
14 anos de idade, quando me desloquei para Mossoró com a finalidade de avançar
em meus estudos.
No
Sítio Canto dividi a minha vida de estudante com a lida da agricultura no
plantio de algodão, feijão e milho.
Sem
dúvida que a vida familiar sem condições financeiras não afetou a grandiosidade
da formação ética e religiosa regadas com muito amor, paz, harmonia e fé,
repassada, através do exemplo dos meus pais Jorge Julião da Silva e Maria
Alexandrina da Conceição, que no meu entender prestaram o maior serviço que se
pode prestar a humanidade: constituíram uma família.
Permaneci
em Mossoró até 1968, tendo estudado na Escola Estadual Jerônimo Rosado, indo
para o Rio de Janeiro aos 17 anos de idade para dar continuidade aos meus
estudos.
No Rio
de Janeiro estudei, me graduei em contabilidade e administração de empresas,
trabalhei como contadora durante 13 anos. Constitui família, tendo como esposo Edilson Gonzaga de
Souza, com o qual tive 03 filhos: Edilson Gonzaga de Souza Júnior, Carla Vieira
de Souza e Silvia Vieira de Souza.
Por
motivo da doença do meu esposo retornei ao Rio Grande do Norte e durante 02
anos, dediquei-me a cuidar do meu esposo doente, tendo ficado viúva, em 1986,
com três filhos menores (7, 4 e 2 anos).
Continuei
os meus estudos, em nível de pós-graduação (Desenvolvimento Regional e Meio
ambiente e psicopedagogia) e de Licenciatura em Pedagogia e bacharelado em
Serviço Social.
Ingressei
no setor público como professora do município de Areia Branca, hoje aposentada.
Desenvolvi atividades nas políticas públicas de Educação, Assistência Social,
Meio Ambiente, Trabalho e Habitação desde1997; sendo que desde o ano 2000 sou
gestora municipal da assistência social de Viçosa. Trabalhei em Campo Grande,
Frutuoso Gomes e Messias Targino, como
assessora técnica da educação e da assistência social, tendo colaborando em
alguns programas e projetos, entre eles: , Programa Bolsa Escola, Programa
Bolsa Família, Cadastro Único, Programa Brasil Alfabetizado, Conselho da
Criança e Adolescente, Conselho tutelar, Conselho de Educação, FUNDEF, FUNDFEB,
Prefeito amigo da Criança e Selo Unicef Município Aprovado.
Sou
imortal da ALAM – Academia de Letras e Artes de Martins, ocupante da cadeira
número 7, definindo meu perfil como: Autora do livro “O Gerenciamento das
Políticas Sociais: Memória, Trabalho e Resultado”. Entre os Relatórios de
Pesquisas realizados merece destaque para a “A Sustentabilidade do Ambiente do
Trabalho do Professor”. Atuei como Presidente do Sindicato dos Servidores
Públicos Municipais de Areia Branca por 08 anos e militei em diversos conselhos
de controle social e de políticas públicas. Meu maior prêmio: meus três filhos,
e meus quatro netos e um a caminho.
A Educadora Matinense FRANCISCA VIANA DE MESSIAS, Dona Chiquinha Tabita, como carinhosamente era chamada, sempre levou a oração para a sala de aula. Foi a primeira Professora, a primeira Catequista e a verdadeira Missionária do Sítio Canto.
Nasceu no Sitio Jacú, no
município de Martins, estado do Rio Grande do Norte. Filha de José Viana de Messias e Antonia Maria da Conceição
(Coconha).
Seu pai, que era fogueteiro, faleceu numa explosão de fogos, deixando
três filhas e a viúva Coconha com 26 anos. Isto fez com que Francisca Viana de
Messias, logo cedo tivesse que dividir com a mãe a tarefa de vigia do
grupo escolar Almino Afonso e o trabalho da roça para ajudar no sustento e na
educação das suas duas irmãs caçulas. Essas responsabilidades não lhe privaram
do compromisso com os estudos e o amor pela cultura, preparando-se para ser
professora e evangelizadora.
Casou-se aos 24 anos de
idade (em 1913) com José Antonio Vieira (Zé Chapéu), com o qual teve 08 filhos:
Vicente, Pedro, Francisco, Paulo, José, Luis, Maria e Ana, tendo educado a
todos com base nos princípios do catolicismo, da ética, da solidariedade e do
humanismo.
Pessoa religiosa,
comprometida com a solução das questões da sociedade proletária, da igreja e
das famílias, Dona Chiquinha Tabita era Zeladora do Apostolado do Coração de
Jesus e Membro da Congregação Santa Terezinha.
Eis, então, o fundamento
por ela adotado na constituição de sua família, em que a partilha, o bem, o
amor e a fraternidade eram vivenciados cotidianamente no convívio com os filhos
e o seu esposo.
Com a visão da ação e da
oração como fundamentos do projeto ideal da criação, Dona Chiquinha Tabita
utilizou a cultura, a religião e a espiritualidade como à coluna de ferro para
a sustentação da família e modelo de formação dos seus filhos e dos seus
alunos.
Seus alunos sim; porque
mesmo sem nenhuma remuneração, nem tampouco ajuda, Francisca Viana de Messias
fez da sua residência uma verdadeira Igreja Doméstica e Primeira Escola Pública
do povoado Sítio Canto, onde morou até
a sua morte.
O PORQUÊ DA IGREJA DOMÉSTICA:
A sala de sua casa era
equipada com bancos, uma mesa, um oratório com muitas imagens e a Bíblia, onde
todos os domingos eram ministradas aulas de religião, preparando as crianças
para a Primeira Eucaristia. A palavra de ordem era a religiosidade, a ética, o
respeito e a obediência como sustentáculo da vida feliz.
Uma vez por cada ano, a
calçada da sua casa / Igreja Doméstica se transformava em Altar e seu terreiro
em Plenário Comunitário, quando Pe Carlos Celebrava a Missa da Primeira
Eucaristia daqueles seus alunos do catecismo que estavam preparados
espiritualmente para receber o Corpo de Cristo e os laços matrimoniais dos
noivos da comunidade do Sitio Canto.
Numa pretensa vontade de
materialidade de culto aos mortos e resgate da história dos martinenses, Dona
Chiquinha Tabita, todas as segundas-feiras ia, com os alunos, ao Cemitério,
onde Rezava o Ofício das Almas e fazia reflexões sobre a Memória Histórica dos
Antepassados que ali estavam no seu repouso eterno.
Durante o ano, todas as
noites do mês de maio eram rezadas as novenas marianas, com a participação de
todos os moradores. A organização do ambiente da sala para as novenas ficava
sob a responsabilidade dos alunos da escolinha.
O PORQUÊ DO LAR ESCOLA:
Na mesma sala onde, aos
domingos eram ministradas as aulas do catecismo, de segunda a sexta-feira, um
grupo de crianças do Sitio Canto recebiam os ensinamentos da Educação Formal
Integral e Integrada. Dona Chiquinha Tabita priorizava nas suas aulas dos
conteúdos de Português e Matemática, assuntos que motivassem os alunos, como:
Respeito ao Meio Ambiente, A Saúde do Corpo, O Patriotismo e a Justiça Social,
a Economia do Lar, A Família e a Vida.
A Responsabilidade
Social de Dona Chiquinha Tabita ia ao extremo, fornecendo almoço diariamente
para aquelas crianças que demonstravam sinais de desnutrição e de fraqueza.
Quando uma criança
faltava às aulas ela ia visitar para saber das mães a causa. Quando o motivo
era a falta de roupa ou calçado ela mesma providenciava a compra, confecção do
vestuário e a distribuição. Porém, não sem antes dar um belo sermão de
compromisso, responsabilidade e de luta pela justiça social.
Assim, a criança só
deixava de frequentar as suas aulas quando sabia as quatro operações e concluía
com domínio de conhecimento todo o conteúdo da Cartilha do ABC e dos Livros
Laurita e Ensino Rápido.
Durante suas aulas
procurava sempre relacionar o letramento, a religiosidade, a ética e justiça
social, dando um tom todo especial às ideias
feministas muito avançadas para
aquela época.
Amante da cultura e da arte, Dona Chiquinha Tabita, fazia da sua vida de
religiosidade e de dedicação ao lar a marca da concepção revolucionária sobre a
educação e o papel da mulher na sociedade e na família, fato que imprimiu sua
passagem na formação da população da época.
Católica fervorosa dedicou toda a sua vida aos mais pobres e excluídos da
sociedade, além de esposa dedicada e mãe exemplar.
Esgotada fisicamente,
Dona Chiquinha Tabita, foi acometida de forte bronquite asmática, reumatismo
nos joelhos e um grave abscesso no seio esquerdo, em 1959, tendo ficado
paralítica em 1960.
Faleceu, no Sítio Canto,
em 15 de fevereiro de 1967, após ter passado 07 anos de intenso sofrimento
físico, deixando viúvo seu esposo José Antonio Vieira, que veio a falecer 15
anos depois da sua morte.
Durante os 07 anos de
paralisia dirigiu com braço forte as ações religiosas de todos seus familiares
residentes no Sítio Canto (filhos, genros e netos), com a prática da reza do
Terço, todas as noites e do Ofício de Nossa Senhora, todas as madrugadas.
Eram seus companheiros
inseparáveis: O rosário, a palavra de
Deus e a ação.
Sua indignação: A Injustiça social, o Acúmulo de riquezas
materiais e a Falta de ética.
Seus bens materiais: Duas vestes e um calçado, pois só tenho um
corpo.
Seus bens maiores: O Amor, a Partilha, a Fé e a Dignidade.
Sua Máxima nas noites de
sofrimento e dor:
Quem fui; quem sou; quem serei?
Quem sou? _ Nunca pensei!
Quem serei? _ Não quero saber
Pela sua história de
vida, pelos vários desafios enfrentados na sua prática educativa, familiar e
social, como defensora da Família e dos humildes, bem como evangelizadora das
crianças, viveu um projeto pedagógico que a legitima ser patrona da cadeira 07
da ALAM.
Francisca Viana de
Messias tinha no seu companheiro José Antônio Vieira a pactuação de suas ações.
Era denominada de Mãe de todos.
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