domingo, 31 de julho de 2016

O CAVALHEIRO E SÁBIO, ACADÊMICO ANTÔNIO CLÓVIS VIEIRA[1]



Por Dr. Lúcio Ney de Souza[2]



“As vezes nosso coração está agitado. Mas Deus faz um silêncio danado. Na verdade, Ele está dizendo: Calma filho. Eu já tenho tudo planejado.”

Saudação às autoridades do dispositivo....

“No que me cabe, conheço bem as minhas limitações, mas também conheço os meus sonhos. Quando peso minhas deficiências procuro, de imediato, igualmente projetar meus sonhos; e o resultado dessa operação sempre me anima a caminhar.

Convocado que fui para saudar e apresentar o acadêmico da Academia de Ciências Jurídicas e Sociais de Mossoró - o Dr. ANTÔNIO CLÓVIS VIEIRA -, por ocasião do elogio ao seu Patrono Luiz Colombo Pinto Neto, na cadeira 19, e que doravante o denominarei Dr. Clóvis e às vezes simplesmente CLÓVIS, assumo com a convicção de que cumprirei a missão.

Não há como evitar o lugar comum de afirmar, neste introito, que acolhi este convite com profunda alegria, e de fato, torna-se quase impossível encontrar outra maneira adequada, em momentos como este, de falar de quão honrosa é esta missão, igualmente prazerosa em função dos fraternos laços de amizade que nos unem há anos, facilitada, também, pela bela trajetória de vida que o ostenta.

Procurei pesquisar toda a sua trajetória de vida, cumprindo a missão de quem tem tamanha responsabilidade e dever de apresenta-lo, não só para os colegas acadêmicos, mas também para os que até aqui vieram prestigiar essa solenidade.

É paradoxal essa minha missão: Por um lado é simples, pois conheço bastante o Dr. Clóvis; Por outro, é complexo, uma vez que, apesar da sua juventude, tem uma trajetória de vida bastante produtiva, quer no aspecto profissional e, principalmente, no aspecto acadêmico pela sua compulsão de escrever e registrar fatos.

As imortalidades literárias são ficções existenciais que se sobrepõem às vulgaridades. Quando as academias convocam intelectuais para a convivência e comunhão culturais não fazem obséquio político nem inventam ídolos. Simplesmente proclamam reconhecimento ao mérito dos escolhidos.

O termo imortal foi retirado da Academia Francesa. A palavra foi retirada da frase Àl'immortalité, que está estampada no selo oficial da Academia. Na versão brasileira, ser imortal significa ser ou já ter sido membro da Casa de Machado de Assis. Além de ter garantidos para o resto da vida os famosos chás e bolinhos das tardes de quinta-feira, nas quais os acadêmicos trocam amenidades e, as vésperas de eleições, farpas.

O escritor baiano Antônio Torres, quando da sua posse na cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, conceituou o significado da expressão imortal nas academias: Vejamos:

IMORTAL, esse é o termo utilizado para designar os membros da Academia, indicando que os escolhidos para entrar nesse seleto grupo viverão para sempre na memória da cultura brasileira, e esta tem a capacidade de transcender o tempo.

Segundo o dicionário da língua portuguesa, imortal significa: “não sujeito à morte”. Os membros das Academias também são chamados de imortais, não pela sua imortalidade física, mas pelo valor que suas obras possuem.

Olavo Bilac, o príncipe dos poetas brasileiros, em resposta a um interpelante, que queria saber por que os acadêmicos eram imortais respondeu:

“São imortais porque não têm onde cair mortos”.

Na verdade, os homens são passageiros da vida, que é o dom de Deus. A humanidade os faz eternos pelos rastros de luz que deixam em sua vida terrena, fazendo-os dignos da admiração dos pósteros.

O Dr. Clóvis é um acadêmico que tem essa fortuna, além de ser homem de ciências e letras possui uma certa compleição especial e um especial polimento, isto é, é elegante em seus livros e dentro da vida. É elegante para ser e para fazer. Enfim, não é apenas escritor tipicamente, é tipicamente acadêmico.

Uma academia não é apenas um punhado de escritores fixados, treinados ou jeitosos na prosa, na crônica, na poesia, na crítica, no romance ou em outro gênero literário.

Uma academia é a casa das inteligências, que trabalhadas por um sentido superior da cultura, superiores se mostram na própria criação literária, incapazes de vulgaridade e muito menos de mesquinharia de forma e de conteúdo.

Toda a questão está na atitude e nas ideias, na sanidade do pensamento, na dignidade de expressão e da comunicação humana, tanto quanto na capacidade de conviver.

Este conjunto de valores são decisivos para numa soma final formar o homo academicus.

Se nada tivesse produzido, esta Academia já se justificaria apenas por um dos ensinamentos que nos legou. O de que é possível obedecermos à lei do universo que nos ensinou Lao-Tsé:

“as diferenças não constituem obstáculo à convivência respeitosa entre diferentes, à harmonia entre os contrários, ao louvor à pluralidade”.

Somos todos herdeiros da vocação criadora de Deus e nossa missão no mundo é construir.

Há os que constroem obeliscos e monumentos ciclópicos. Os que constroem a guerra e a dor e vivem de produzir o medo e a desolação.

Nós, porta-vozes da inspiração e do grande sentimento, produzimos policromias e construímos sobre o amor. Vivemos de provocar a beleza e sugerir a felicidade. A Academia é a imortalidade, a espiritual sobrevivência da arte e da cultura.

Contam que, seis séculos antes de Cristo, lá pelas montanhas do Oriente, onde tudo nasceu, viveu um ser fulgurante chamado Lao-Tsé.

Lao significa "criança, jovem, adolescente".

Tsé é o fluxo de muitos nomes chineses, que quer dizer "idoso, maduro, sábio”.

Lao-Tsé, o "jovem sábio", o adolescente maduro", foi contemporâneo de Kung Fu Tsé, o Confúcio, de quem foi discípulo.

Reza a lenda que Lao-Tsé escreveu numa grande pedra a coletânea dos 81 versos que se tornariam a síntese de sua sabedoria, que entrou para a história sob o nome de Tao Te Ching (O Livro que revela Deus) e é, ao lado da obra de Krishina e de Jesus, uma das três mais importantes mensagens da humanidade.

Diz ele no segundo poema:

“O fácil e o difícil se completam.
O grande e o pequeno são complementares.
O alto e o baixo formam um todo.
O som e o silêncio formam a harmonia.
O passado e o futuro geram o tempo”.

Segundo HubertoRohden, Lao-Tsé nos ensinou a grande lei da bipolaridade do Universo e de todas as coisas. Nada é somente o Uno, e nada é somente o Verso. Tudo é Universo, unidade na diversidade, equilíbrio dinâmico, harmonia cósmica.

Orfeu é um deus amoroso e sedutor que age nas mentes humanas convocando para suas fileiras os que são bons.

Bons de talento, de espírito, de convivência, de atitudes e vamos descortinando todas essas qualidades em certezas quando conhecemos alguém de bom quilate, de boa safra.

CLÓVIS, o nosso Lao-Tsé, que ainda jovem já conta com apreciável bagagem literária e Como Orfeu quero saudar o Acadêmico Antônio Clóvis Vieira que da sua operosidade intelectual resultaram vários obras nos domínios da crônica, do ensaio e da poesia, quase todos repassados de forte sentimento telúrico.

Dr. Clóvis é Advogado, Mestre em Ciências da Educação, Professor Licenciado em Matemática, Técnico da CAERN, mas acima de tudo cidadão que se preocupa com a ética e a qualidade de vida, fazendo da poesia cordelística o instrumento de expressão dos seus sentimentos; seja no cotidiano pessoal de vida, seja atuando como professor.

Martinense de nascimento e mossoroense de coração. Em 1970, aos 06 anos de idade, desceu a serra de Martins com destino a Terra de Santa Luzia, buscando sua formação, sem nunca ter esquecido as suas origens.

Integrou os trabalhos de evangelização Social de Padre Guido. Baluarte na formação de jovens nos bairros. Pioneiro no Projeto Esperança - recuperação de jovens -, com início na Paróquia São José.

Graduado em Matemática pela Universidade Regional do Rio Grande do Norte e Bacharel em Direito pela Faculdade MaterChristi, e também professor. Atualmente é professor da rede municipal de ensino de Mossoró.

Quando estudante da UERN, foi estagiário do Projeto Universidade X Prefeituras, atuando nos cursos de formação dos professores leigos, com a disciplina Metodologias Alternativas no Ensino da Matemática.

Advogado há 09 anos procurando contribuir para a melhoria das condições de vida dos idosos, jovens e pessoas deficientes, atuando em defesa dos seus direitos, obtendo êxito em diversas ações no Fórum de Mossoró.

Desde a infância é afeto à criatividade e à descoberta do significado da literatura para a vida das pessoas.

Na qualidade de escritor e cordelista publicou 15 Cordéis e 01 livro “Lembranças e Rimas”.

Os cordéis são: O Advogado Humilde e o Morador de Rua; Entre o Amor e a Razão; História de Elizeu Ventania; Lembrando os Tempos de Outrora; A Burra do Mentiroso; Achado não é Roubado; As Mulheres que Botaram uma Onça para Correr; Caçada Implacável; Canário; Piaba e Valente; Ciladas do Destino; Chico Filho: Exemplo de Superação; Lamentos de um Torcedor; Desafio em Cordel; e Lamentos de um Advogado.

Entre as pesquisas realizadas destacam-se: cabimento do mandado de segurança na justiça do trabalho e execução provisória na justiça do trabalho, bem como, a subjetividade e práticas pedagógicas interdisciplinares como instrumentos da contribuição social do professor leigo.

Membro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional do RN e do Sindicato dos Servidores Públicos de Mossoró (Sindserpum).

Atualmente integra várias atividades nas seguintes instituições culturais: Academia de Letras e Artes de Martins (ALAM), Academia de Ciências Jurídicas e Sociais de Mossoró (ACJUS), Academia de Cordel de Mossoró, Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e a Comissão do Folclore(CONFOLC).

Enquanto Assessor Jurídico alia-se aos munícipes pela conquista da efetividade das políticas públicas como patrimônio inalienável dos cidadãos, tendo na Lei Orgânica Municipal e no Plano de Cargos e Salários os maiores instrumentos para tais conquistas.

Dr. Clóvis é filho do Senhor Jorge Julião da Silva – Tenente reformado do Exército e da Senhora Maria Alexandrina da Conceição – Professora primária, grande paroidista e metodóloga do ensino a criatividade. O ensino prazeroso e a lúdica no processo aprendizagem era o seu grande foco. É Patronesses da AFLAM cadeira nº 06 e da cadeira nº 1 da ALAM. Constitui-se a maior sensibilidade da família.

O maior patrimônio do Dr. Clóvis é a sua família, construída em bases solidamente cristã. Casado com Maria da Saúde Torres, com quem tem 03 filhos: Dione Cristina – Enfermeira; Daniel Lucas – Advogado - Militar – Funcionário Público do Estado do Ceará, e Gabriela Vitória – Acadêmica de Direito que fez intercâmbio nos Estados Unidos. Clóvis já possuias delícias de ser avô de Yasmin com 3 anos de idade, filha de Dione Cristina.

Tem 12 irmãos – 10 formados e pós-graduados com especialização, mestrado e doutorado. Dentre os quais, Sandoval, Dalva e a DrªTaniamá, nossa confreira, são imortais.

Tem sido através do mundo da cultura, no aprendizado e no aprimoramento dos vários conhecimentos existentes: seja nas ciências exatas, humanas, sociais, da saúde etc, que o homem tem alcançado patamares desenvolvimentistas capazes de proporcionar o bem estar social e melhoria da qualidade de vida para toda a humanidade. E nesse contexto, as instituições acadêmicas têm sido indubitavelmente grandes difusoras e receptáculos dos conhecimentos, desde priscas eras, quando o mítico Platão, fundou a primaz Academia em Atenas, na antiga Grécia, no ano 387 a. C., que preconizava o desejo de “educar os jovens de maneira oposta à sofística, preparando-os para a união entre o poder político e a ciência, no engrandecimento do homem”.

Assim Dr. Clóvis, a boa fama e o nome que granjeastes – não é sombra – como queria o poeta Lucano – é sol para os dias futuros, por serdes de uma estirpe que avança no áspero e difícil. E a sombra dorme, sim, o sol sempre se acorda de horizonte, tal esta copla do argentino, AtahualpaYupanqui no seu canto de vento:

“De lembranças e caminhos,
Um horizonte abarquei.
Longe se foram meus olhos,
A rastrear o que passei.”

Senhor Presidente, Confrades, Confreiras, Autoridades e convidados:

Eu e Clóvis temos uma trajetória com diversos pontos em comum, quais sejam:

- Somos de origens humildes
-Sou formado em Matemática – Clóvis também;
-Sou Professor de Matemática - Clóvis também;
-Sou Bacharel em Direito - Clóvis também;
-Sou Advogado - Clóvis também;
-Sou da ACJUS - Clóvis também.

Se tudo isto não bastasse, vejam que coincidência, rara por sinal, meus senhores e minhas senhoras: Clovis foi meu aluno no curso de Matemática na UERN e eu fui seu aluno no curso de Direito na Mater Christi.

Não obstante, permitam-me trazer a esta saudação um verso do Dr. Clóvis, grafado no seu livro Lembranças e Rimas, intitulado “Lembranças do Tempo de Outrora” no qual discorre, entre outros aspectos, a vida no Sertão:

Senhores prestem atenção
No que vou dizer agora
Como já foi em outrora
As noites do meu Sertão
Trago em meu coração
Lembrança das invernadas
Das noites enluaradas
O brilho dos pirilampos
Alumiando os campos
E coruja nas estradas.


Não existia energia
Para sair ao terreiro
Se usava um candeeiro
Ou no escuro saía,
Meliante não havia
Não se corria perigo
Cada um era um amigo
Quando aparecia alguém
Era pessoa do bem
A gente dava abrigo.


Eu lembro que mãe Chiquinha
Cedo estava de pé
E preparava o café
Botava numa jarrinha
À nossa rede ela vinha
Gritando está na hora
A tempo rompeu a aurora
O café tá preparado
Temos que ir pro roçado
Levanta e vamos embora.


A gente se levantava
O seu humor dava gosto
Ali se banhava o rosto
Ela nos abençoava
Café a gente tomava
Ouvindo a passarada
Batia mão da enxada
E para roça seguia
Desse tempo de alegria
Só há lembrança e mais nada.


Nas noites de São João
Salão de piso batido
Um sanfoneiro atrevido
Tocava xote e baião
Assim já foi meu sertão
Comparado ao Paraiso
Falar verdade é preciso
Eu vivo aqui na cidade
Com o fogo da saudade
Me derretendo o juízo.


No sertão de outro dia
Só tinha estrada de barro
Quase não se via um carro
Passando na rodovia,
Hipermercado não havia
Só tinha um velho armazém,
Transporte só tinha o trem
Que a gente achava bonito
Quando ele dava um apito
Disso eu me lembro bem.


Eu lembro das caminhadas
Em maio para as novenas
Que chegava a ter dezenas
De fiéis pelas estradas,
E das histórias contadas
Causos verdades e mito
Eu me rendo e admito:
O Tempo com Majestade
Vai transformando em saudade
E dando o seu veredito.


E no meu peito a saudade
Fez um ninho pra morar
Eu tive de acostumar
Com a vida na cidade
Mas o Sertão na verdade
Está diferente agora
Com a cidade se aflora
E o tempo vai, me castiga
Eu sinto grande fadiga
Lembrando os Tempos de outrora.


Por fim, Confrades, Confreiras e estimado amigo Dr. Antônio Clóvis Vieira, encerro a minha oração citando o grande Poeta Belchior:

Você não sente, não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que há algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo.
E precisamos todos rejuvenescer"

Concluo dizendo:

Clovis é um homem que se faz querido e respeitado Por onde quer que passe.

Cavalheiro e sábio.

É humilde sem ser submisso.

Grandioso sem ser soberbo.

Muito obrigado 

E viva a Academia de Ciências Jurídicas e Sociais de Mossoró - ACJUS













[1] Discurso proferido pelo Acadêmico Lúcio Ney de Souza em Saudação / Apresentação ao Acadêmico Antônio Clóvis Vieira, no momento do Elogio ao Patrono da Cadeira 19, Luiz Colombo Pinto Neto, em 24/06/2016

[2] É Primeiro Ocupante da Cadeira 02 da ACJUS.

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