sábado, 12 de julho de 2014

À MANEIRA DAS BENZEDEIRAS.


12 de JULHO de 2014 - Estava eu relembrando a minha vida de infância quando me deparei indagando sobre o significado das benzedeiras na vida de nós nordestinos. Principalmente na dos que vivem na zona rural ou até mesmo daqueles (como eu) que mesmo tendo saído do sítio para a cidade grande não perdem a sua identidade com as raízes campesinas.

Aliás, tenho percebido que é comum, mesmo com o acelerado avanço científico e tecnológico da atualidade, as pessoas recorrerem aos auxílios de benzedeiras para tirar quebranto, curar espinhela caída, etc, de si e de seus familiares, principalmente das crianças. São pessoas que dedicam a maior parte da sua vida curando e rezando naqueles que as procuram.

A dedicação e a filosofia religiosa destas mensageiras da cura tem certa aderência com os primórdios da humanidade, quando desde a época medieval que ocorriam práticas articuladas entre religiosidade, cura e milagres.

Posso afirmar, assim, que é preciso avançar na análise, buscando entender como as ações das duas práticas: medicina “popular” (benzedeiras) e a religiosidade oficial são vistas e vivenciadas por elas próprias e as pessoas da comunidade por elas atendidas / curadas. Não dá para emitir respostas prontas; mas indagar e aprofundar o conhecimento sobre a realidade, devendo ser analisada à luz não do significado, mas das carências das políticas de saúde e os valores culturais enraizados nos comportamentos dos povos, enquanto elemento que instrumentaliza e define alguém, quanto suas ideias, crenças, costumes e hábitos.

A análise reflexiva e desprendida dos preconceitos certamente nos levará a algumas sínteses, como sendo:

As práticas de cura têm resistido secularmente, inclusive, frente ao processo de globalização; e, mesmo havendo o acelerado desenvolvimento científico e tecnológico da humanidade, está confirmado que os elementos históricos e sociais do mundo globalizado não conseguiu ainda diluir a concepção e crença do dom de cura das benzedeiras, existindo uma significativa procura diária de pessoas para serem curadas dos mais variados problemas, sendo eles de caráter físico (maior índice) e psicossocial e espiritual.

É marcante a religiosidade das benzedeiras, as quais praticam os regulamentos da religião católica na sua própria casa e aos domingos indo a missa, bem como, inserindo em suas práticas as orações do catolicismo e portam elementos religiosos do catolicismo popular.

O dom da cura é um fenômeno sobrenatural, denotando certa aderência aos primórdios da organização das religiões no Brasil e no mundo.

Meu imaginário relembrou que a prática orante das benzedeiras é feita e sustentada nas orações de origem católica, bem como alguns dos instrumentos (terço, imagens de santo, rosário e vela) que são utilizados durante as rezas de cura; mas, também lançam mãos de elementos da natureza, como o ramo de plantas.

Relembro, também, que os curandeiros têm um papel social importantíssimo na sociedade, podendo ser tidos como elemento de supressão das carências do sistema formal de atendimento às necessidade das pessoas.

Elas tendem a ser pessoas isoladas, afastadas do convívio social; mas é importante que não se acreditem autossuficientes. A benzedeira que envereda pelo campo da indiferença à necessidade que margeia sua vida e o caminho, tende a se afastar da essência do seu carisma que é a caridade e a prática da oração.

Cabe aqui a frase de Martinho Lutero. Ela por si só fala da importância de servirmos ao próximo: “Nenhuma árvore produz para o seu consumo próprio. Tudo quanto há na vontade de Deus se dá em favor dos outros. Somente Satanás e os homens sob a influência do Maligno é que buscam o proveito próprio”.

Repenso apenas que cada árvore dá o fruto à sua maneira de agir ... e continuo relembrando!


Dra. Taniamá Vieira da Silva Barreto

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