sexta-feira, 6 de junho de 2014

SIGNIFICANDO CULTURA E REDESENHANDO SABERES Taniamá Vieira da Silva Barreto.



A gente tem que lutar para tornar possível o que ainda é possível. Isto faz parte da tarefa histórica de redesenhar e construir o mundo.

Paulo Freire


Ao decidir construir certos argumentos sobre o gosto pelo significado da cultura tinha em mente que o significado da vida se alicerça nas coisas que pensamos, significamos, fazemos e ressignificamos. São coisas[1] que só a nós compete pensá-las sob o olhar do nosso próprio olhar com inquietudes e certezas.

Não que o olhar do outro não seja importante. Isso não! É sim e às vezes mais importante do que o nosso.

Porém, o nosso olhar tem a sua singularidade e sua importância para aquele momento que estamos vivendo. E mesmo que só seja importante para nós e não para os outros é dele que nos alimentamos; é com ele que vivemos e é através dele que avançamos numa doce ilusão de que é o melhor para nossas vidas e nosso crescimento.

Contudo, avançado na construção do meu pensamento fui tentando redesenhar o que era a cultura para mim, naquele exato momento.

Fiquei pasma!

Não era da cultura da vida que o significado estava sendo construído; mas sim na cultura.

Veja-se que a simples mudança “da cultura” para “na cultura” dá um tom todo diferenciado ao sentido do que queremos expressar.

Então, qual delas traz um melhor sabor para o meu propósito?

Deparei-me com mais uma indecisão: Qual o signo linguístico que diferencia o ”na” do “da”?

Meu paladar da apreciação do conhecimento é exigente.

Não queria falar “da cultura”, pois se assim o fosse ela ficaria fora da minha própria construção; mas, sim “na cultura”, vez que quero mergulhar na minha própria condição de entender o seu valor linguístico na produção poética; na construção do conhecimento; na dignificação dos saberes. E é justamente na representação dos saberes que encontramos o sentido da cultura, enquanto produção significativa da vida.

Assim, deixei em suspenso o redesenho do significado para me ater ao desenho do que me é significante para entender o papel da cultura na minha maneira de olhar as coisas, a vida e o mundo.

Consegui perceber; porém, não profundamente, que na cultura encontramos considerações pragmáticas significativas para poder nos interrogar sobre os saberes produzidos através da arte, da poesia e das formas concretas, gerais e particulares da humanidade.

Refleti e gostei do que consegui compreender, mas que há muito mais a ser visto e compreendido.

Percebi que ao contrário da cultura o termo “na cultura” nos faz mergulhar na nossa própria prática, para dela extrairmos toda a essência dos nossos significados significativos e os não significativos para os outros. É com a prática do ser cultural que conseguimos fundamentos (conhecimentos) para a organização do nosso saber anteriormente disperso e compartimentado, para ressuscitar os saberes valorativos no mundo musical e visual da arte de redesenhar o que fazemos e sabemos fazer.

São saberes que nos instigam e provocam ao questionamento e à reflexão sobre o conteúdo das manifestações artísticas, sociais, linguísticas e comportamentais produzidas ao longo da história de uma dada civilização. É o conteúdo no real sentido da produção presente na cultura de um povo manifestada através da: música, língua falada e escrita, teatro, rituais religiosos, mitos, hábitos alimentares, danças, arquitetura, invenções, pensamentos, formas de organização social, desenhada pela própria construção do significado de ser.

O entendimento é que a cultura, enquanto instrumento de construção do significado do conhecimento, nos capacita a produzir e reproduzir saberes de práticas dialógicas que contribuam para a revisão do papel de ser cultural na construção de valores éticos e políticos dos indivíduos e de nossas instituições sociais (familiares, religiosas), alicerçando-se na crença de que é possível romper com o dualismo entre natureza desumanizada e ser humano desnaturalizado. Mas, seja aqui ou ali; nesse ou naquele fenômeno, é nela que estamos mergulhados; pois é na gênese da cultura que está a temática do contemplar, conviver e do fazer do homem e da mulher em seu modo de estar no mundo alicerçado em significados provisoriamente precisos – “na cultura” -. Contudo, se redesenhados, são passíveis de se dar a conhecer, enquanto verdade provisória.


[1] O pesquisador Edgar Morin, em seu livro "Cultura de massa no século XX: o espírito do tempo", afirma que cultura significa cultivar, e vem do latim colere. É o conjunto de manifestações artísticas, sociais, linguísticas e comportamentais de um povo ou civilização.



[1] Michel Foucault - As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas.

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